Saturday, September 20, 2008

O princípio vital - Bóson Higgs - se esvai

O ínicio do fim:

Aceleração constante.
Os feixes de protóns chocando-se na velocidade da luz.
Assim está meu corpo em conjuntura com minh´alma.
Um choque explosivo, letal.
Uma nova matéria inanimada está por tornar-se ativa.

O fim do ínicio:

A sedução da morte está tornando meu princípio vital uma força única.
É como o Big Bang, partículas dos mais diversos tamanhos chocando-se umas contra as outras para formar uma única coisa.
A partícula divina, Bóson Higgs, é desnecessária neste momento.
Participa do ínicio e morre para a criação do resto.

A passagem atemporal:

Sentado, cansado, aos prantos.
Sentindo o aroma do mato ao vento.
Ah! Liberdade.
Quero expor-me a este novo.

A certeza, apenas, do presente:

Algumas cápsulas milagrosas em meu bolso permitem que
A cintilação da luz da lua seja mais acentuada.
O doce e inebriante gosto do meu próprio sangue esverdeado.

As lástimas regressadas:

Sinto falta do amor, sinto falta de sorrir livremente, sinto falta de viver.
Sinto falta de chorar e de nada mais querer.

A falta de dúvidas:

No lapso mais importante da minha existência, eu, brado do alto da estátua que construi de mim mesmo:
" Prefiro morrer do que viver morto".

A última lágrima:

Meu egocentrismo fez-me escolher meu destino, assim como a idéia do Deus(partícula divina), é preciso morrer para nascer um novo dia.

Saturday, September 13, 2008

A última cerveja

Desataco o cinto.
Torno-me, então, livre para expor minha protuberância abdominal.
Ligo o computador, ainda suspirando.
Uma parte de minha adolescência/vida adulta acaba de morrer.

A depressão, novamente, devasta-me.
Sinto-me incompleto.

O posto da Rosa e Silva acaba de morrer.
Para alguns pode parecer idiota, estranho, mas para mim significa muito.
Este posto faz parte da minha história, faz parte daquilo que escrevo.
Sem mais delongas, vou ao ponto final:

Hoje, 13 de setembro, um sábado sombrio, acaba a última cerveja.
Às 22:27h comprei a última cerveja do posto da Rosa e Silva.
Nada mais apropriado do que este item ser acabado por mim.
Nos últimos 9 anos fui cliente deste posto, daqueles que conhece do dono ao mendigo.
Foi algo interessante e emocionante.
Tinha acabado o turno de Rosa e Dênis(Um casal), entraram Will e Edinaldo.
A última cerveja do posto estava lá, só me esperando.
Uma lata de Skol, retorcida, com vencimento em 11/01/09 proporcionava uma despedida.
Os dois rindo: "Ninguém mais merece esta cerveja do que você, nosso cliente cativo".

Não foi uma despedida qualquer. Não!
Este posto foi mais que um amigo, muito mais.
Lá conheci várias pessoas, lá idealizei a maior parte do que, aqui, escrevi.
Lá foi o local que tornei-me feliz.

É triste ver algo da minha realidade acabar.
Pode parecer idiota, novamente, mas estou chorando.
Não só pelos funcionários(Amigos) que perderão o emprego, mas, também, por mim.
Grande parte da minha vida social foi naquela esquina, com aqueles personagens.
Agora vejo um grande vazio.

Não há palavras suficientes para descrever a minha dor.
Uma dor que transcende qualquer matéria.

No decorrer dos tempos adquiri uma grande curiosidade sobre as pessoas, sobre coisas.
O posto foi a inspiração que superou a manipulação dos fatos, coisa que sempre fiz.
O posto foi a resposta dos problemas, várias vezes.
São incontáveis as vezes que me sentei naquele chão e pensei nas respostas, na minha vida, em tudo.

Não quero escrever mais.
O posto não merece isso.
Despidirei-me dele como sempre faço.
Sem dar adeus, sem até logo.
Simplesmente saindo e não mais voltando.

Tuesday, September 09, 2008

O servidor

- Não tenha pressa, José, não tenha pressa de morrer.
Seja bravo, José, tenha fé.

Aqui e acolá a mulher de José, Maria, repreendia o marido pela falta de amor próprio.
José é servidor público, um súdito de um sistema que nasceu pra dar errado.
Como um Leão, ele foi domado, a duras penas aprendeu a obedecer, baixar a cabeça e ficar calado.
E assim foi os, até agora, 30 anos de serviço.

Aos 58 anos de idade, com quatro filhos e dois netos, José, conta os dias para sua tão sonhada aposentadoria.
Era a luz no final do túnel, tal qual mostraria um novo caminho, saindo da cegueira e ingressando na felicidade da visão.

Parabéns pra você, nesta data querida...

- Feliz aniversário, José. - Todos lhe cumprimentavam.

Quando o silêncio tornou-se notório, José chorou.
Com as mãos trêmulas lembrou-se das angústias que passou a vida inteira.
Desabrochou o sentimento de perda.
Um sentimento que grita em seu peito, urgindo para um horizonte transcendental.
José perdera o medo de morrer.
Mais do que isto, não tinha mais motivações para viver.
Passou a vida inteira se dedicando aos outros, servindo a demônios e hoje sua alma tornou-se independente.
Um hoje desconhecido, como uma imagem que deprecia a idéia de destino.
Ele possui o controle.

- Não deixarei que o stress cotidiano acabe com minha vida, não deixarei que a velhice acabe com minha vida, não deixarei que outrem acabe com minha vida.

E com estas palavras, José, pulou do décimo quinto andar no prédio onde morava com sua família.
Morreu com a certeza que dominava, ao menos, o seu tempo.