Saturday, December 01, 2007

Entre sereias e pombos enforcados

Mais uma vez me encontro bêbado.
Meu corpo, leve, cambaleia em cada rajada de vento.
Estava, em conflito existencial, novamente.
Completava 21 anos naquela data.
Penso que esta é a idade, exata, para ocorrer a passagem da adolescência para a vida adulta.
Talvez por isso, neste momento, uma dose mais forte seja necessária.
- Garçom, poderias trazer uma dose dupla de vodka?
- Pois não, senhor.
23:50h, marcava meu relógio.
Meu aniversário chegara.
Mas, como todos os anos, essa se tornou uma data triste.
Talvez pela falta de com quem comemorar ou das verdades que tenho que encarar.
Na fraqueza, com medo de passar sozinho, novamente, um aniversário, começo a ligar para amigos.
Liguei pro primeiro, não queria sair.
Liguei, então, para outro, ele não atendia.
Parto para a última ligação, este quer sair.
De tantas pessoas conhecidas, só tenho três amigos.
Isso é frustrante, no mínimo.
- Bob, por onde andas? - Perguntava, alcoolizado.
- Estou em casa, se quiseres sair é só me chamar.
- Respondia o amigo.
- Passo aí daqui a pouco, só acabarei meu copo.
Pego a chave do carro, a carteira de cigarro, o celular, mas faltava alguma coisa...
Algo para beber no caminho.
Sem alcool qualquer lugar viraria tedioso.
Paro no posto e compro uma cerveja.
Aproveito e compro outra carteira de cigarro.
- Ei, patrão, sobrou um troco pra me dar?
Tou com fome. - Dizia o menino de rua.
- Estás com fome mesmo?
Bem, se quiser tem um sanduiche no carro, só dei uma mordida, não gostei. - Jocosamente, eu dizia.
- Prefiro o dinheiro. Eu posso ser pobre, mas não como resto.
- Então, fica aí com fome.
Entro no carro, subo os vidros, ligo o som e dou um tchauzinho.
Aquele garoto, que aparentava ter uns 10 anos, possivelmente, morrerá antes dos 15.
Só de olhar nos olhos dele vejo a inveja.
Ele verá que nunca irá conseguir ter roupas, casa, cama para dormir...
Só terá um papelão e alguns trapos.
Irá, daqui a pouco, ser mais um revoltado, e, possuído pelas drogas perderá a noção da realidade.
Matará e assaltará, sendo assassinado pelo bem da nação.
- Louco! Vá pra... - Gritava, o quase atropelado, mendigo.
- Saí da frente, mendigo de merda! - Aos risos, eu dizia.
Não consigo me reconhecer.
Eu não era assim, era doce e tratava todos muito bem.
Quando virei este crápula, hedonista e egocêntrico?
Ah! Agora lembrei...
Foi quando aceitei que era capitalista.
100 metros se passaram e, parei, em outro posto.
A cerveja estava no meio e, por prevenção, pego outra.
Aquelas cerveja, com certeza, me reanimariam.
A depressão, instalada naquela noite de sábado, causada pela não aceitação do ser social, passará rapidamente, dando lugar àquela alegria contagiante, que só o bêbado tem.
Cheguei na casa de Bob, ele já estava esperando.
- E aí? Que tal irmos no Recife Antigo?
- Você que sabe. O aniversariante escolhe. - Dizia, Bob.
- Então, vamos.
No caminho, novamente, se vê um Recife sujo e vazio.
O feriado transformava, a cidade, num grande deserto.
Só se via mendigos, sujeira, assaltantes em bicicletas e pagodeiros rebolando seus quadris.
Aquele rio, podre, mostrava que chegara ao Recife Antigo.
O fedor, era peculiar, só tinha ali.
Um lugar que poderia ser um polo cultural, mas tornou-se refúgio dos menos afortunados ou dos playboys que rememoravam seus tempos "undergrounds".
Grande parte dos prédios estão abandonados ou ocupados por drogados.
O estacionamento, por sinal muito caro, é um dos únicos lugares modernos neste bairro de escória.
"Aperte o botão e retire seu ticket" - Dizia a máquina.
- Obrigado, máquina. - Aos risos, dizia.
O estacionamento fica no segundo andar.
Mas, qual a razão disto?
Será que é por causa da entrada do shopping, propriamente dita, ser neste andar?
Bem, o capitalista, em suma, é um escroto.
Sempre inovando nos metódos de persuasão de consumo.
Substituem trabalhadores por máquinas, assim gerará mais lucros, não terá greve nem lutas sindicais.
Então, colocam cartazes com pessoas belíssimas...
Uma puta sacanagem!
Quando ainda estava raciocinando sobre o capitalismo eis que surge um som sublime...
Logo depois um perfumado cheiro brilha na noite.
- Putz! Peidei... - Falou o interlocutor. - Foi mal, cara. - Completou.
- Hahahaha. Relaxe. - Aos risos, novamente, Bob.
Notoriamente envergonhado, fico sem palavras.
Para onde foi minha educação católica?
O que me avô pensaria disso?
((To be continued))

Saturday, November 10, 2007

O jogo libidinoso - A morte da inocência.

((Depois posto o resto, estou reformulando certos conceitos e termos))

Adentro, novamente, naquela rua escura.
Os postes, com suas luzes furtadas, eram meros coadjuvantes da paisagem urbana.
Paro o carro, temeroso, sabendo, pois, que estava prestes a perder a lucidez.
Vagarosamente, aproximo-me da entrada do meu prostíbulo particular.

- Trofônia, eis que aqui estou.
Peço-te, que acione os portões, mas não lances, ainda, seus feitiços.
O diálogo, entre nós, deve acontecer nesta noite. - Tremendo, dizia Inocêncio.
- Para quê tanta formalidade?
Entre, pois, para conversarmos. - Respondeu, a devoradora de almas.

No longo caminho da entrada até o calabouço, onde instalava-se aquela que roubara meus sentimentos profundos, começo, novamente, a pensar.
E ao pensar, titubeio.
Talvez não seja a hora certa para desvincular-me deste romance...


- Senhor, entregue-me as armas antes de entrar.
Peço que se faça silêncio, pois as serpentes estão adormecidas, neste momento. - Dizia-me o jovem vigilante.
- Que assim seja.
O silêncio se fará.
Não possuo armas, mas se quiseres posso entregar o restante da dignidade que tenho.
Pois, ser isso, minha única forma de defesa.
- Não arrancarei a dignidade de um homem.
Suba, siga a luz da lua.
Ao se deparar com uma porta negra, entre.


Retiro meu paletó e desaperto a gravata.
Estava na hora.
Avisto tal porta e alongo minhas passadas.
Ela estava aberta e, sem nenhum pudor, adentro na fortaleza da usurpadora de almas.
As luzes, como na entrada, não existiam.
Conseguia enxergar apenas pela força da luz natural, vinda de fora.
Esbarro em um baú.
As minhas pernas, já trêmulas, ficavam mais ainda.
Mas, não fujo da curiosidade, nem o temor da morte seria obstante, e abro o baú.
Retiro quatro itens:
Um opiáceo, uma foto minha, um boneco vodoo e bloco de cartas(Ao que parecia).

- Venha até mim, Inocêncio.
Deixe o prazer tomar conta de teu corpo.

Espanto-me ao ver, novamente, aquela silhueta feminina que cativa com sortilégios.
O pragmático desejo tomara conta de meu corpo.
Aquela voz dizia-me mais do que palavras.

- Não deixarei-me, corromper, novamente, por estes teus olhares penetrantes.
Minh´alma não calará.
A necessidade de um colóquio, se faz necessária, está iminente.
Povoastes meus sonhos com perseguições e traições.
Mas, o deleite carnal, este prazer sensual, não deixa-me esquecer de ti.
Voltas à caverna! - Emocionado, o jovem rapaz, dizia.

Uma lágrima caia da devadora de almas, acontecia, agora, o rompimento de todos os sentidos.
Não escutava, não via, não sentia cheiro algum.
Só a escuridão se fez presente.
Em um lapso, escuto um som sibilante.
O medo, que sentia, cada vez mais, tornava-se real.
A fúria, daquela mulher, tornou-a ainda mais sensual.

- Tu vais resistir, doce rapaz?
Então, mostrarei-te a minha vingança.

Vagarosamente, suas vestimentas caem no chão gelado.
Uma por uma.
Sinto calafrios, um desejo incontrolável de jogar-me aos seus pés.

- Poderás me ver, mas não tocarás.
Teus olhos ficarão em chamas,
tua boca secará,
os teus órgãos copuladores funcionarão como nunca,
mas, mesmo assim, não me tocarás. - Aos risos, dizia, Trofônia.

A resistência baixa a guarda. Tento fugir, pela porta, mas esta se fecha.
Os quadros, nas paredes, riem do volume estabelecido em minha calça.
Objetos começam a sobrevoar minha cabeça, continuando a tormenta sem fim.
Meus olhos, cansados e desesperados, refugiam-se naquela foto, qual estava num baú.
Mas, Trofônia, não permite.
Lança feitiços, sobre eles, tornando-os ao seu corpo de formas modelares.

- Ó, Destruidora de pensamento, deixa-me repousar no teu colo.
Juro não mais duvidar deste amor.
Deixa que meu corpo se una ao teu, juro que, esta, será uma simbiose eterna.

- Inocêncio, saibas que minh´alma fundirá com a tua.
Não poderás, jamais, desfazer-se deste laço.
Tua escolha é definitiva?

- Pudera eu fugir deste destino.
Não vês estas lágrimas que recobrem meu rosto?
Acredita em mim, pois não conseguirei viver num mundo controlado.

- Pois, teu desejo torna-se real.
O controle, do qual precisavas, não mais precisarás.
Serei teu guia.
Jogue-me esta coleira, envolvida em ti, para que não precises sofrer.
Levarei-te em minha caverna, tomarei posse de tua alma e deixarei teu corpo, desfalecido, aos Leões.

Thursday, October 25, 2007

Horas atrás - Uma prisão sem grades

Tudo passara em minha mente, naquele momento em que acordara.
De olhos abertos, encarei a realidade.
Meus braços formigavam, meu coração estava acelerado, não conseguia mais respirar.
O pânico instalado tinha causa, e a conseqüência, já esperada, se concretizava.
Não conseguia mover-me daquela cama.
Só ao pensar que teria que passar, novamente, por toda dor psicológica, tremia.

Três semanas se passaram.
A barba já estava grande, o cabelo sem corte, já perdera 5 quilos.

- Filho, está na hora de procurares ajuda. – Disse, minha adorável mãe.
- Não preciso de ajuda, mãe, preciso de tempo.
- Não vês o que fazes contigo?
Estás em uma prisão sem grades.
Não te deixarei falecer nesta cama.
- Fazes o que queres, mas não estou pronto para encarar o mundo.
- Do que tens tanto medo? O que te aflige, a tal ponto de não quereres sair.
- Tenho medo de morrer sem deixar meus livros prontos, de minha única virtude ser perdida sem aproveitamento.
- Marcarei uma consulta hoje mesmo. E você irá, à fina força! – Irredutível, dizia ela.

Os passos até o elevador se transformavam em quilômetros.
Minha visão estava toda borrada.
Segurava-me nas paredes, como apoio, caso viesse a cair.
A porta abrira e o desmaio parecia iminente.

- Entre agora!

No caminho, de carro, até aquele longínquo consultório, vi um assalto.
Uma moça esbelta, recamada de roupas de gripe e equipada com seu celular, mp3 player, carteira recheada de dinheiro, perdera seus bens para um marginal qualquer.
Imaginei seu medo, e transformei-lo no meu.
De tantas fobias, esta, em particular, era a que me causava mais pânico.
Suava frio, mesmo com o ar-condicionado, meu braço esquerdo voltara a formigar e meu peito estava em chamas.
Tentei usar o controle, lembrar de coisas gloriosas que fiz, das conquistas realizadas para com o sexo feminino, mas a imagem daquela moça era a única que me vinha em mente.

- Chegamos. Vá entrando que tentarei estacionar. – Dizia a preocupada mãe.

Respiro fundo, tento controlar as batidas do coração, minhas pernas e braços.
Ao entrar naquela sala dou de frente com um espelho.
Não sei se o colocaram propositalmente, para que todos entrem sabendo quem são, ou uma mera preocupação estética.
Vou até o balcão e pego uma senha.
Sou o número 3.
É estranho vir até aqui e me tornar um número.
Talvez este psiquiatra seja um charlatão.
Primeiro, coloca um espelho.
Segundo, trata-me como um número.
Terceiro, sua ajudante é linda.
Pensando melhor... Talvez não seja um charlatão.
Ele é um gênio.
O espelho mostrará quem sou eu e a natureza da qual não poderei fugir.
É importante para o doente que haja confiança plena, e tratar como um número mostra indiferença.
Colocar uma ajudante linda é prejudicial ao tratamento, já que os doentes não quererão expor suas psicoses na presença desta deusa.
E, consequentemente, irão voltar e voltar e voltar, até que a vida os leve.

- Número 2. É a sua vez.
Dirija-se ao corredor e entre na primeira porta.

A tormenta parecia não passar.
Só estava há 5 minutos e já sabia de todo marketing daquele crápula.
Só faltava colocar pôsteres de gente saudável, interagindo com outras pessoas e vivendo a ignorante felicidade.

- Filhote, tem quantos antes de ti? – Perguntava a atrasada mãe.
- Eu serei o próximo. Mas, não tenho tanta certeza sobre o caráter deste médico.
- Pare com paranóias! Ele já trabalhou em hospitais psiquiátricos, é professor e dá palestras sobre transtorno do pânico.
- Como se isso fosse parâmetro para caráter...
- Sem discussões. Você irá e ponto final.
Não gastei tanto dinheiro para nada.

O garoto que fora, antes de mim, acabara de sair.
Os seus olhos estavam fixos.
Não olhava para os lados, só para frente, como guiado por uma voz.

- Número 3?
- Sou eu.
- Vá até a porta e bata antes de entrar.

- Boa tarde, rapaz. Sente, por favor.
- Bem, irei ser direto, doutor.
- Pois não.
- Sofro de transtorno do pânico e quero que me receites drogas.

O médico se acabava de tanto rir.
Então, pude ver seus dentes apodrecidos, talvez de tanto fumar.
Aquilo me deu medo e nojo, também.

- Já vi que és espirituoso.
Não é bem assim que acontecem as coisas.
É... Como é seu nome mesmo?
- Na verdade não me apresentei.
Chamo-me Henrique, e o senhor?
- Sou Masaich, prazer.
- Infelizmente não posso dizer que tenho o mesmo prazer, preferia não estar aqui.
- Isso é normal.
Conte-me um pouco sobre sua vida.
Você faz faculdade?
- Faço. Faculdade de biomedicina.
- Uma área interessante, um bom campo de pesquisa...
- Bem, a área pode ser interessante para o senhor, mas pra mim, não.
Fui forçado a fazer este curso. Tanto pelo autoritarismo do meu pai como por razões financeiras, não ligo muito pro curso, queria fazer Psicologia.
- Como é a relação com seu pai?
- Sempre foi uma relação de amor e ódio.
Ele mora longe, em outra cidade, não me liga e mal me visita.
Sempre foi assim, desde criança.
Todos falam que eu devia valorizar o pai que tenho.
Mas, eu valorizo. Eles não entendem.
Ele é um gênio, mas nunca precisei de um, precisei e preciso de um pai.
Quando estava na puberdade, tendo crises existenciais, não sabendo quem eu era, ou mesmo na hora de desvendar a sexualidade.
Tudo que aprendi, até hoje, foi lendo ou com meus amigos.
Mas, como disse, no início, vim aqui falar do transtorno de pânico.
- Ah! Claro, mas antes tenho que ver os fatores extrínsecos, para entender a ação da doença.
- Extrínsecos? Eu sei o que ocasionou este Transtorno.
Não precisas fazer análise, só juntar os dados que darei e escrever em seu caderno que sofro de Transtorno do pânico, certo?
- Então, o que ocasionou isso?
- Tive uma bronquite nervosa na prova de vestibular.
Depois disso ficava controlando minha respiração.
Esse trauma ficou de vez.
Então, quando viajei de ônibus para a cidade do meu pai, passei mal, novamente.
O motorista me deixou na estrada dizendo que era só atravessar a rua que tinha um hospital.
Mas, pelo contrário, tinha que andar cerca de 1 km.
Tentei, mas não consegui. Não tinha mais ar. Fiquei parado na estrada pedindo socorro até que um senhor parou o carro e deu uma carona até o hospital.
Cheguei lá e o médico era despreparado, no mínimo, e ia dar uma medicação errada, tive que corrigi-lo.
Depois de medicado fui ligar para o meu pai, para ele me buscar.
Ele disse que estava ocupado e que eu pegasse um ônibus, nem ligou pro fato de eu estar, completamente, nervoso.
Então, tive que pegar este ônibus e fui passando mal até a casa dele, cerca de 30 minutos.
Desde o acontecido não consigo viajar ou entrar num ônibus sem passar mal.
Se fosse só isso até que seria fácil de conviver, mas foi sendo agravado.
Ficava controlando a respiração, checando os batimentos cardíacos.
E quando tentaram me assaltar, passei mal do mesmo jeito, parecia que ia desmaiar ou ter um ataque fulminante.
Então, pra resumir...
Não consigo ficar sozinho, tenho medo de sair na rua, tenho medo de entrar em ônibus, de viajar, de fazer exercícios físicos.
E toda vez que os faço aparecem os sintomas.
- Realmente, sofres do Transtorno do pânico.
Mas, a medicação não irá resultar em nada se não tiveres o devido acompanhamento.
Deves ir ao psicólogo, para fazer terapia e, também, ter força de vontade para esquecer os traumas.
Como sua hora está perto do fim e não posso fazer outras abordagens, passarei um remédio para aumentar os níveis de serotonina.
- Mas, como sabes que estes níveis estão baixos?
Eu não falei se estou em depressão ou não.
- O transtorno do pânico é associado com a depressão.
Tomarás, nesta semana, 150mg diárias.
Quando voltares semana que vem veremos o resultado.
Mas, como disse, é pouco tempo para ter noção do problema.
Quando vieres aqui, semana que vem, quero que me fales sobre a sensação que tivestes com o remédio.
- Está certo, doutor.
Até mais.

Saindo da sala daquele mercenário me deparo com minha dedicada mãe ainda naquele sofá. Acho que ela estava mais preocupada do que eu.
Ao me ver, rapidamente, ela levantou e fomos embora.

- Como foi lá? – Perguntou.
- Foi bem. Ele passou um remédio tarja preta.
Acho que ele pensa que sou meio doido.
Mas, que se dane, o que importa é que irei me drogar de forma licita. – Aos risos falei.
- Engraçadinho...

Ao sair de lá vamos direto para a farmácia.
Senti-me especial por dois fatos: O psiquiatra ter receitado na primeira visita e a cara da atendente da farmácia na hora que entreguei a receita.
Talvez ela tenha pensado que eu fosse perigoso.

- Está aqui, senhor. – Disse ela, então.

Seguimos para casa, mas a curiosidade era grande.
Abri aquela caixa, como o símbolo da liberdade, coloquei na boca aquele comprimido e bebi um gole de água.
Claro que não esperava um resultado imediato, mas estava ansioso.

Ao chegar a casa senti uma leveza, uma felicidade pequena, ao ponto de sorrir sem motivo.
Fui novamente pro meu quarto, e, diferentemente, dos momentos que vivi há pouco, não estava com medo.
Senti uma vontade incontrolável de escrever e desta não fugi.
Meu corpo não tinha mais dores, até arriscaria andar até a padaria.
As algemas estavam prestes a se quebrar, sabia, pois não me sentia tão preso, como horas atrás.

Saturday, September 08, 2007

O olhar se perdia naquela paisagem bucólica.
Momentos felizes vinham com lágrimas desgarradas.
Entre soluços e risadas, lembro de ti, velho amigo.
Tivestes muita importância na minha formação, mesmo que o convívio tenha sido de pouco mais de um ano.

Volta aqui!

Quero ver novamente teus malabarismos, tuas verdades penetrantes, tua alegria.
Não posso mudar este destino cruel que tivestes, queria, não posso.
Tão jovem, mas tão maduro.

Lembro daquela vez que saímos com duas mulheres.
Eu, muito inexperiente, com meus 15 anos, iria pegar a mais bonita.
E tu me falastes: " Kiko, deixa que eu pego esta. A galera fala que ela tem Aids".

Aquele ato protecionista ainda me encanta.
Ela realmente tinha Aids, já morreu por sinal.
Lembro de uma vez que eu, bêbado, bati a moto.
Liguei pra tu, e viestes, para ajudar-me.
Quase brigando com o policial.

Jogando playstation, bebendo feitos loucos, pegando mulheres vazias,
jogando sinuca e rindo das besteiras de Lu.
Uma das épocas mais difíceis da minha vida, onde vivia numa cidade hostil, tu amenizastes essa minha passagem.
E, agora, é a minha vez de tentar amenizar a tua...
O câncer pode ter te tirado de nós, fisicamente, mas sempre serás lembrado, em cada sorriso, cada brincadeira que vejamos.

Márcio, Mortadela, Bigode de rato, cara de fuinha,
Sentiremos tua falta, eternamente.
Descanse em paz, velho amigo.

Se Deus realmente existir...
Saiba que estou rezando para que ele te dê um bom lugar no mundo sobrenatural.
Márcio "Mortadela" José Santos25/10/1980 - 06/09/2007.

Saturday, August 25, 2007

A esquizofrenia capitalista - O manifesto, pós-morte, social.

Uma lágrima e os olhos tornam-se enrijecidos.
Suas drogas e fraquezas o fazem de eremita.
Naquele momento a existência é pura conveniência.
Dilatado em uma mesa cirúrgica, pensa em si próprio.

Boom!
A morte encerra o ciclo.

- És tu a fada que cintila minha fauna?
- Não, mestre das facas.
Sou a personalização caótica do medo.
- Onde dormes tu quando estou de joelhos?
- Em estratélares, diante de teus olhos fechados.
- Uhm... Entendo.
Serás tu então aquele que me busca?
- Abra os olhos...
- Que assim seja.
- Teus sentidos foram bloqueados, não sentirás emoção alguma.
Não escutarás, não verás, não falarás.
Sou o mensageiro do teu apocalipse.
- Como assim?
- Tu viverás em estado vegetativo, és agora um corpo vazio.
- Não, estás errado!
Sou revolução.
Os sentidos embriagados na poesia e prosa.
- Tu serás o que pretendias ser.
Caminhes pela claridade e deixa a esquizofrenia manifestada.
És a direção contrária.
Saberás, então, que em todas as sonatas,
prosas socias, teu nome não será incluso.

- Então, pois, serei a flecha no escuro, sem nada atingir.
Derrubarei estes muros e encararei o mal que me aflige.
Serei o protegido e execrado.
A memória do amor perdido.
Sem meio-termos.
Vou ter o que sempre quis ter,
Dinheiro, mulheres e o poder.

Wednesday, August 22, 2007

A parceria dégagé-viral

Comunicação internética; frenética ilusão.
Sou eu: Vírus!, a corromper todo o seu Hd.

Sem querer, vais ter tempo...
pra responder ao último e-mail de um certo dègagè.
- O que será que este e-mail irá conter?
- Vou dar uma dica: Abre pra ver!

Curiosa, parte pro MSN, delicada qual condessa do Antigo Iêmen.
Travou!Fudeu!... Aquele vírus já corrompeu!
Miserável! Por que não cumpriu o que prometeu?
Porque é mais emocionante, dègagè, dizer olhando nos teus olhos.

- E o que esse tal dègagè quer tanto dizer?
- Ah, descobrirás quando o vir.
- E como o reconhecer?
”Ao olhar nos olhos dele, sentirás a luz incandescer (...)”
- Não entendo de metáforas, odeio português.
Sou um vírus, não tenho nada! A dizer.

Espere-o, espere-me no sábado, na sua cidade,que eu, ele há de aparecer...
- E o que ele, você tem a dizer?
- Kwen. E eu lá vou saber?
"ERRO! ERRO! ERRO!
Essa operação não pode ser realizada.
Todos os seus dados foram apagados.
Sua única salvação é ter o dègagè ao seu lado

"Onde estás, descendente de Pilatos?
- Onde sempre estive, de onde nunca sairei.
De um pôster, no teu quarto!

Saturday, July 14, 2007

A liberdade de ser ou não ser

Ser...

Sou ou não sou?
Procuro ou acho?
Luto ou desisto?

Ser ou não ser...

Distante ou perto?
Vitória ou insucesso?
Amargura ou afeto?

Sabes,
querer é poder.
Mas, ao julgares possibildades
tens que conviver;
com a vida e a morte,
o sonho e a realidade.

Então, esqueces,
Deixas a ilusão dominar-te,
mas lembras, depois, que és um artista
que nunca fez arte.

Como epifises e diafises em conjunção,
chalaças se formam.

O inferno de Dante cai sobre os sentinelas da moral.
E a enfermidade da alma se esvai junto com as cores do profano/animal.

Ambiguidades sensoriais,
libidinosidades sacais.
Sentidos antes de padecer.

Não espere.
Não reze.
Viva a liberdade de ser ou não ser.

Pensamento

A perda da sanidade na adolescência é fruto de uma má educação comportamental na infância.
Um garoto que aspira grandes feitos, se não tratado, poderá se tornar uma ameaça pública.
Pois, a falta de realidade o tornará medíocre (para ele mesmo).
E aos medíocres cabe a falta da moral.
E sem moral?
Um homem perde a razão e se equivale a um selvagem.
“...”

Não me venham com pensamentos programados.
Faça de sua opinião uma verdade.

Analogia floral

Quando a primavera faz as flores desabrocharem e não permite que os meios de interação reserva/resistência se desenvolvam, as paredes celulares abrem um caminho. Por este passam as espículas da enfermidade mais temida por crianças adultas, a convalescença da moral.
Isso ocorre em decorrência do lançamento, pelo inconsciente, de seus venenos vermelhos.

A solução, é plausível dizer, seria a morte do pensamento floral, mas ele rege as dúvidas e as certezas, o crescimento e o amadurecimento, a razão e a emoção.
Então o que fazer quando as temerosas depressões afligem uma roseira?

Quem és tu?

Irrefletidos defensores da escrita.
Destemidos pregadores de "liberdade".

(Falsas verdades: nova ética)

Anti-dogmatismo, a explosão da raiva.
Padres ignotos padeçam sobre a cruz e a espada.

Nova constituição cefalo-braquial(Way of life) dos hereges.
Inquisição para os tolos. Eles merecem!

”-Garçom, mais um hausto.
E que seja J.Daniels, cansei desse whisky barato;
Descanse suas nádegas na cadeira ao lado,
Quero falar-te do templo aqui vicinal.
Esse antro de seres programáticos.
Infelizmente, confesso, casei-me numa dessas, iludi-me com o estatuto morganático.
- Señor, no sé hablar suya lengua.
- Pro inferno, chicano desgraçado!"

Paulatinamente o copo perde a cor.
Misturas fatais.
Últimas horas;
Dúvidas Banais.

- Oh! God.
- Não, sou Juízo final, sua centopéia revolucionária.
- Mais que droga, estou bêbado!
(Pasmo estou com tal face estraçalhada).
- Ser decrépito, formador da discórdia,
te condeno ao exílio!
- Só vou se tiver birita, mulher e TV a cabo.
- Então, aceitas teu destino? Não lutavas para deixar legado?
- Não, não. Só por mulheres e TV a cabo.
- Seja feita a vossa vontade.

Canavial de emoções, militantes do MST.
Mulheres imundas e uma TV.
Indignado, corre pro orelhão.

- Juízo final, onde estais?
"Deixe seu recado depois do bipe".
-Filho da puta, eu pedi cachaça, não um matagal;
Pedi mulheres, não mutações, seu animal.
E pra piorar, pedi TV a cabo.
Bem, forneceu-me a TV, mas colocou o cabo no meu rabo.

Um glutamato, umas aspirinas e fenilananina.
KABRUM!
O porre acabado.
Suspira, então, o cavaleiro alucinado.
De um sonho louco sobraram apenas dois problemas: Dor cervical e no esfíncter anal, um artefato.

Reflexão dos ícones / Iconoclastia

Antes de mais nada deve ser feito uma pergunta:
- O que é um ícone?
- ícone seria aquele no qual toda uma sociedade se espelha.
-Mas, assim não chocaria com o sentido de ídolo?
-Bem, a diferença é que fizemos uma incorporação desta palavra(ícone),
já que seu real significado era ligado à religião, mais especificamente de Igrejas russas, na qual o ícone era a imagem pintada da "Virgem".

Falando em imagens...


Relato de uma indignação

Indigno-me de referências a "Satã" como se fosse o pecado, a malícia.
Veja bem, "Satã" vem do latim e significa: "O oponente".
Uma imagem criada para ser usada de contrapeso.
E, é claro, mais um erro da Igreja.
Assim como estereotiparam o tridente de Zeus como um símbolo do demônio, eles fizeram com Satã.
Não tenho nenhuma afeição pelo Satanismo, até porque eles cultuam o mesmo que execro diariamente: Uma imagem.
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A iconoclastia

O iconoclasta privilegia o lado da rejeição à tradição, a tudo que está estabelecido.

Iconoclasta é aquela pessoa que ataca ícones sociais porque vê o seu reflexo inserido no que critica.

"O iconoclasta não chora, engole o choro. Não vive o luto, vive em luto.
Não aceita, se rejeita.
Não vive a plenitude da incompletude ontológica do ser humano.
Vive a mentira da auto-realização independente.
Dialeticamente, o iconoclasta revela seu compromisso com a coisa negada ao negá-la."
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Um grande exemplo de iconoclastia?

http://maddox.xmission.com/

"This page is about me and why everything I like is great. If you disagree with anything you find on this page, you are wrong."

Friday, July 13, 2007

O virgem e Chininha

Estapafúrdio sentimento que brada de um peito liso.
Entrego-me na desonra de uma relação infrutífera, conclamada pelo priapismo acometido.

Desfio suas vestes e tomo posse deste domínio.
Estouvado, pelo desejo, esqueço-me da mortalha.
Acaricio seus seios nus, igualando-me ao Eros de psique.
Todo o mal, que afligia, desaparecera.

Na face deste sonho esverdeado a pureza perdia-se na incessante sedução do amor carnal.
As aves declamavam poesias, o momento chegara.
Dúvidas migravam para outrem.

-Doce criança, conduz meus olhos, pois não vejo nada.
Peço-te uma lasca de tua pele, para lembrar de ti.
Siga, então, as aves cantoras, e estacione meus olhos quando o pôr-do-sol adentrar teu corpo.

-Não irei deixar-te, pois deste sangue que tirastes estava minha essência.
Segure minha mão, e deixe-me guiá-la.

João e Maria

Acorda, João.
O galo cantou para a tormenta iniciar-se novamente.

Repousa, sofrido.
Deita no colo de tua mulher,
e deixa ela falar sobre amor. Coloca sua mão na tua cabeça, indagando, cinicamente:
Mulher, faz-me um cafuné.

Acorda, trovador.
Maria já despertou, o galo já cantou; é hora de se despedir.

"Mulher, fostes minha por anos, mas não tenho condições de dar-te o melhor. Nossos filhos e nosso gado morreram da peste. O que nos resta? Tomai um veneno, logo após seguirei o mesmo rumo e deitarei-me ao lado teu".

Flores da liberdade(A influência do sagrado)

(...)As rosas cresceram no meio da armadura de concreto.
Fixaram-se no solo, juntaram energias e dissiparam suas ideologias.

Praguejando, aproximaram-se satânicos:
"Terracota maléfica, crescei em meio ardiloso e liberta-te da haste".

Rezando, vinham os católicos:
"Que Deus venha até ti, e traga-te ternura para seguir o caminho".

Pétalas ao chão.
O âmago, do ser livre, desprende-se na gélida noite do domingo.
As flores da liberdade são corrompidas.
Do negro cálice ao sangue,
Do laicismo ao ponto final.

O conciliábulo decide,
omita seu poder, mas siga suas regras.
Das aleivosias que irás dizer, sou imune.

Superior és a todos que transgredirem meus ditâmes,
pois, assim, serás salva da ira do irracional,
do adutor de desequilibrio,
Eis que estarás em frente ao sagrado imortal.

Passagem do tempo

Alguém designou que o ano teria 365 dias.
Alguém supôs que deveríamos nos guiar pelo Sol.
Essa não deveria ser uma festa alegre.
Deveríamos ficar enclausurados em nossas casas e avaliando o que fizemos nessa passagem de tempo, mas, ao contrário, farramos e ficamos bêbados, desejando a todos um próspero ano novo.

Hoje vou beber, vou me agarrar com a primeira que aparecer a frente e ao chegar em casa direi em voz alta:
"Eu sou um merda, não valho um vintém".
Depois de uma breve análise dos acontecimentos situarei-me e verei que resta apenas escrever entre goles e soluços.
Ao acordar estarei debruçado sobre um caderno, e nele estaria escrito:
"Aqui jaz o EU pensador até 2006".

Perdi o sentido de viver em cada ano que passei sonhando, apegando-me à incerteza,
destoando da normalidade.Agora liberto-me de meus dogmas e espero que a felicidade venha e me bata à porta

Thursday, July 12, 2007

O raptor selvático

Acenda os faróis e rume para o imaginário.
Não me encontrarás nesta dimensão.
Desfaleça-se de seus conceitos e entre vazia.
Estacione no segundo sinal de saturno e desça de seu pedestal moral.
Espere-me na escura Faresa, ladeada pela ponte Austie.
Àquele que vos pedir migalhas desfira sua arma.
O protecionismo e o altruísmo não são válidos no domínio de Guinévere.

Não deixe teu corpo sem movimento,
não permita que tua alma se cale,
pois, estarei eu, na espreita, para roubar-te a vida.

Tuesday, January 16, 2007

O encontro

"A simplicidade do "verde" encanta os olhos do homem comprometido com as causas naturais.
A espiritualidade, antes crescente, está em declínio eterno.
O momento pára e o sorriso de Lady Liberty volta a ser admirado pelos infames senhores da verdade sem substratos.
Enquanto os jovens se divertiam, o homem pensava.

A distorção dos fatos faz com que o ignóbil dono da realidade me expulse.
Encontro no irreal tudo o que precisava:
As falácias que proferiram ou até mesmo a razão de minhas últimas lágrimas.

Quem sou eu?

Estava parado, pensando na vida.
Notei que minhas fotos estavam, de meus 10 anos, borradas.
Notei algumas rugas em meu rosto.
Notei que agia como idoso problemático.

Estava partindo o elo da consciência e sequer entendia o porquê.
O superego não existe mais, o ego domina o ser juntamente com o ID.
Percebi que não sigo nenhum movimento, ando com pernas soltas.
Como alguém pode se basear em si próprio?
Os traumas sociais fizeram minha mente dividir-se em três:
- O Henrique: Tímido, calado, observador e romântico.
- O Sarcoley: Calhorda, arruaçeiro e jocoso.
- O Farr Sunsa: Crítico e egocêntrico.

Como uma mistura de ingredientes num liquidificador,
como um plexo imoral, fui, então, criado.
Juntou-se o bem e o mal, mas dele não se diferenciava qual era o real.

Quando pequeno olhava os outros garotos jogarem bola, contarem piadas,
falarem mal dos outros.
Enquanto isso, o isolamento do pensador era um fato consumado.
Julguei-se um completo idiota, um ser anti-social e desinteressante.
A personalidade foi sendo formada de uma maneira trágica.

(Possivelmente, outros como Henrique, já são um fracasso.
Vivendo em um mundo diferente do real, usando da imaginação para fugir do convívio).

Aos 18, sonhava, ser grande, tinha todos os sonhos do mundo, fato caracteristico da idade.
Pensei ser a "Revolução" e me atirava na ponta das facas para sentir o ambiente ser modificado.

De forma anacrônica chego aos 20, brado, na montanha dos insucessos anteriores, que enterrarei minha bandeira nesta fase.

Mas, pensando bem, não sou este revolucionário.
Sou o reflexo daquele garoto de 10 anos,
o reflexo dos traumas sociais,
a sombra que tanto me atormenta.

Sou Henrique Farrapeira de Assunção quando quiseres alguém compreensivo,
Rique Farr Sunsa quando clamares por um egocêntrico e
Henry Sarcoley quando quiseres um canalha.

Não tenho forças para lutar contra mim mesmo.
Sou fraco, mas assim, continuo vivo.

Thursday, January 04, 2007

O Chamado

Frederick acorda no meio da noite.
Parecia flutuar, novamente, no seu mundo imaginário, a ilha da Farrsa.
Os seus calcanhares perfurados por um longo artefato de madeira, de forma lateral, expondo sua genitália. Seus braços esticados horizontalmente, amando ao próximo mesmo sem ser um Cristo. Sua cabeça, presa, se destacava por uma coroa de urtigas que perfurava seu crânio.
Estava ensanguentado, mas mesmo assim, com extrema força, abre seus olhos esmagados.

- O que está acontecendo? - Dizia, Frederick.

Uma mulher esbelta, cheia de pompa, aproxima-se com um sorriso sardônico e fala, docemente:

- Fostes condenado à morte.
Tuas ímpias palavras foram escutadas, tens um público, neste momento, sôfrego por vingança.
Enterraremos as falácias que proferistes neste sepulcro de porcos, para lembrares do calvário, ao qual foi submetido o Salvador.

– O sangue, em minha face, acaba de coagular
Meus membros, antes trêmulos, perderam a mobilidade.
Mas, mesmo sem vida(...)
Meu calvário é a redenção de um povo.
O insucesso desta plebe teocrática, da qual és porta-voz, é a vitória
da racionalidade.

Fechara os olhos esperando uma definição deste sonho ou realidade assustadora.
Desperta, poucos segundos após, com um chamado.

-Como vai, pecador? - Dizia, a voz.
Deixa-me lavar tuas chagas. - Completou, o risonho empregado.

Um senhor uniformizado, talvez uma voz racional neste ambiente fanático, pensara Frederick, porém se surpreende com o sadismo praticado pelo áncião.

-Ahhh! - Urrava, o crucificado. - O que colocasse em meu corpo?

A dor, acentuada por pinceladas de vinagre, se tornava insuportável.
Lembrou-se, Frederick, de sua família, como última visão, antes do último chamado.

A loucura, a juventude e a dúvida

“Não há insano nem são”;
A loucura cresce intimamente.

Os ventos correm com os fortes e ajuda na queda de muralhas sob os fracos.
A Moria está presente desde o primeiro choro, ao ver a luz incandescer até o último suspiro em vida.

Na prática alguém que suprime emoções, guardando para si todas as suas verdades, acaba transformando-se em um poço de frustrações, tendo assim, uma tendência maior do que aquele que expõe emoções com clareza.

A introspecção seria a causa da loucura em muitos jovens?

A submissão

O maior pecado humano é a submissão.
No amor e em qualquer relação acontecerá.
O sentimento agregador de um ser para com os outros que o cercam,
leva-o a acatar opiniões para se inserir no meio social.

Os pobres, em sua fraco poder cultural, sentem-se orgulhosos ao pedir e serem atendidos.
O rico é submetido a um sistema que, claro, os favorece.
Torna-se um zoroastra quando não atinge seus ideais na adolescência e fica inerte às preocupações sociais.

A submissão virou cotidiana.
O comodismo, às vezes, está associado a tal ou até o sentimento de martir ao lutar contra inimigos imaginários.
A relação de duas pessoas que se amam é de submissão?
Sim.
E o que isso prova?
A certeza da não santidade de NENHUM ser vivo.
Então, Jesus amou?
Amou.
Com isso a imagem de santo aproxima-se de iconoclastias e torna o salvador em um pecador.

Retorna aos pensamentos os conceitos que a vida inteira são passados pelos genitores.
Será o atéismo, como dizem, o mal dos humanos ou a adoraração de imagens uma forma hipócrita de seguir vivendo?

Um paradoxo abre-se numa constelação estelar.
O brilho que antes seduzia, torna-se a loucura pela não descoberta das razões da existência.

Onde está o tal Deus?
Dizem, os que crêem, que o Deus fez a sua parte e deixou-nos a liberdade para decidir qual caminho desbravar.
Então, vocês podem se auto-declarar ateus.

Explicando melhor...

No momento que um genitor não rege sua prole,
ele está inerte.
Estaria então, em foco, uma afirmação: "Deus está morto".
O senso de moral que fôra criado para diferenciar a raça humana das outras,
estaria estemecido se a idéia de um Deus inexistente fosse declarada.
Guerras seriam inicializadas pela falta de apoio espiritual...

Dogmas e arruaças!

Prefácio

O sol se recolhia na ilha de Farsa e um grupo de rapazes e moças ainda não tinham retornado aos seus barracos. Uma equipe de busca foi formada. Nela estava o pesquisador comportamental, Henry, o financiador da expedição, Rico, e seu guarda-costas, Fran.
(...)
Chegavam eles ao topo da montanha proibida. A imagem que era vista por eles, pareceu para Henry, uma distorção da realidade. Quando eles ultrapassam a barreira de rosas e espinhos, a imagem pára. As flores que se mexiam com o vento, não possuem mais movimentos. Rico saca sua câmera e começa a fotografar o lugar.Parecia a entrada de uma caverna. Ao lado dela uma caixa com uma luz sendo emitida de dentro. Eles seguem até a luz e abrem a caixa. -Apenas uma chave e um folheto. - Dizia Rico. -Deixe-me ver. - Pronunciou Henry. -Esperem um minuto... Nessa chave tem um símbolo, parece um misto de asterisco com o tridente de Zeus. -E o que isso significa? - Perguntou Fran, assustado.

- Zeus representa a vitória do humano sobre as forças selvagens da natureza e o asterisco, ao que parece, vem a significar uma expansão dessas forças. -Espere um minuto. - Interrompeu Rico. - Esse mesmo símbolo aparece no folheto. -Realmente, Rico. -Concordou Henry. - Tem algo escrito, espere um momento. Enquanto, Henry preocupava-se em descobrir qual eram as palavras que estavam contidas naquele folheto, não percebia que a barreira, por qual passaram, estava a se fechar. -Descobri! - Gritou o pesquisador. - Está escrito "Dogmas e arruaças!”.

O inconsciente

Os restos mortais já em estado de putrefação ocupavam um mesmo espaço. Ao ponto que se aproximava de uma imagem dantesca: O membro sexual de um deles perfurava, como um punhal, a superfície craniana. Atravessando todo o encéfalo e de forma exógena saindo pelo maxilar junto com os gânglios cerebelares. Aquela imagem parecia sensibilizar o camponês. As lágrimas corriam aos olhos. Quando em um lapso vê objetos. O alinhamento desses, até para um camponês, era estranho.Ele inicia uma busca por bens de consumo. Levando carteiras, relógios, celulares e um laptop. A dor de ver cenas bizarras, anteriormente, parecia ter sido finalizada. A alegria tomou conta do homem. Ao sair do carro empurra os restos mortais e todas as toneladas de ferro que os recobriam penhasco abaixo. Começa então a mexer nos artefatos, os quais nunca tinha visto na vida. Abre o laptop e se depara com a assustadora imagem. Era a mesma imagem que tinha visto naquele carro.O inexplicável veio até ele.
Sua mente que até pouco tinha sido pouco exercitada, estava em ritmo acelerado. Suas pernas lhe levavam à beira do penhasco. As mãos trêmulas, o débito cardíaco, o alucinógeno movimento encefálico. A leveza em seu corpo propiciava-lhe forças, que pensava ele, para um vôo.Se joga ao penhasco para encontrar o destino, mas antes a morte o encontra.Como três garotos inconseqüentes ele ignorou o INCONSCIENTE. Tornou-se refém da loucura e perdeu a noção da razão.

A ética do Oriente terrorista

-Ala hu acbad. – Clamavam os guerrilheiros.

A nacionalidade perdida,
Os familiares mortos,
Templos denegridos
E a razão não mais prevalecia.

- Rumemos para Jerusalém, terra nossa. – Gritavam os exaltados.

O orgulho desprendeu-se do corpo,
O óbvio já era incerto,
A luta nunca iria terminar,
Das escolas às ruas era disseminado o ódio.

- Soltem as amarras do pensamento, levantem suas armas. – Revoltos, os homens
Da fé, partiam para a batalha sagrada.

Nada deterá aquele que não teme o final da vida,
Todas as passagens dos manuscritos estão em chamas,
A existência nas mãos dos infantes:
Honrosas crianças que os deixam por um ideal.

- Mostre-nos o caminho, mostre-nos as verdades. – Rezavam os guerreiros antes da batalha.

A cada passo que traçava,
Em cada esquina destroçada,
Sinto-me perdido. Tantos corpos cheios de amor ao próximo
Perdiam-se assolados pela insanidade religiosa.

Das certezas que buscam os ocidentais,
O cavaleiro religioso, vulgo terrorista, nunca precisou.
Basta acreditar que Ala os salvará
E a ética passada por gerações os guiará para o triunfo ou para a morte.