Monday, June 30, 2008

O sertanejo.

(MÚSICA)

Ô Pai, onde estão meus filhos?
Ô Pai, onde está minha mulher?
Saíram de casa para comprar cigarros.
Já fazem meses e eles não voltaram.

Ô Pai, que justiça é esta?
Me deixastes sozinho em pleno sertão nordestino.
Perdido, decidi fugir(...) para a capital.

Será este o meu destino:
Fugir de meu próprio sítio.
Ou será que voarei por dias e meus filhos estarão comigo.

Ô Pai, a vida na cidade é injusta.
Sem dinheiro, sem emprego, ficava com fome.
Um jovem rapaz me ofereceu cola.
Cherei dia e noite e roubei, um rapaz.

Será este o meu destino:
Ser um ladrão, viciado, clandestino.
Ou será que isto é uma ilusão.
Acordarei do sonho e meus filhos
estariam comigo.

Um belo dia um rapaz chegou em mim.
Disse: " Senhor, outra noite você me roubou".
Com um canivete não me contive.
Enfiei em seu peito e corri sem parar.

Será este o meu destino:
Ser um ladrão, viciado, assassino.
Ou será um rito de passagem.
Da vida a morte eu serei o último caminho.

Será este o meu destino:
Morrer sozinho numa tarde de domingo.
Ou será que esta é a resposta para as dúvidas.

Ô Pai, onde estão meus filhos?
Não sei se estão mortos ou se estão vivos.
A incerteza me deixa tão down.

Ô Pai, onde está minha vida?

Wednesday, June 25, 2008

A falta que você me faz.

16h: Palestra sobre vontades, refletidas numa lógica.

- A vida, caros senhores, é um estreito caminho.
Podemos percorrê-lo, audaciosamente, correndo, ou, timidamente, aproveitando o medo como ordem das coisas.
Todos temos uma vontade enlouquecedora do viver, como verbo mesmo, não ter um fim.
Pois, ao pensarmos na existência do fim tentaremos inibir a dor, então, nos afastaremos de quem amamos.
E este pensamento é lógico, como qualquer cálculo matemático, exato.
Ao se apaixonar uma pessoa entrega a outra o seu próprio destino.
A relação de um homem e de uma mulher, quando apaixonados, é semelhante a do cristão com o seu Deus.
No dia em que o amor da sua vida morrer, então, você pensará no mesmo que um ex-cristão e atual ateu pensa.
Se Deus está morto, não existe razão para dar prolongamento a vida.

18h: Hora do encontro com o filho e a mulher.

Dirigindo um carro importado, a prova de balas, com todo conforto possível, o escritor Heindrich Nepton lembrava de como era sua vida anos atrás.
Não tinha esperança, não tinha dinheiro, era um frustrado.
Estas três foram fundamentais para o surgimento de seu primeiro livro, um best-seller.
"O dia em que Deus me matou".
Ele não esperava um sucesso, pois o livro não tinha nada de extradiornário, era simples.
Uma narrativa sobre a sua própria vida, a relação com Deus e todas suas angústias.
Então, 5 anos depois, se tornou rico, cheio de esperança, sonhos e realizado.
Sua primeira namorada, na primeira transa, engravidou.
No ímpeto a pediu em casamento.
Estava chegando aos 30 anos, era hora mesmo de casar, assim pensava.
E a vida de casado, para ele, é uma felicidade.
Pois, agora ele não precisa se masturbar, não precisa lamber a tela de um computador.
Para ele isto era o fundamental no casamento.

- Papai! - Gritava o jovem Joshua, ainda na sacada da janela.
- Desce aqui, filho.
Papai tem uma surpresa...

O menino, como sempre, adorava os presentes do pai.
Robôs, bonecos, tudo de última geração.
Mas, agora era diferente.
Heindrich queria mostrar ao filho como era viver com pouco.

- Papai, cadê meu presente, cadê?
- Vou dar uma dica...
Está dentro do carro.

O menino ficou ansioso, procurou por 20 minutos e não achava nada.
Aos prantos, por pensar que o pai tinha esquecido do aniversário, ele descobre um pequeno pedaço de papel, grudado no volante.
Era uma inscrição numa escolinha de futebol.

(To be continued)
Estou com fome, então, vou beber.

Monday, June 23, 2008

O crucificado.

O estrondo causado por um passado atípico é eminente quando
percebemos que nossa descendência é cristã.
Regados por álcool ou não, descobrimos que a existência é uma derivada matemática.

A morte, a incompletude do ser, a inquietação, eram fatores predisponentes à depressão quando jovem.
Um rapaz simples, sem grandes planos, sem preconceitos sociais.
A arte me convertera no criminoso na civilidade pueril.

- Onde estás, Deus?
Onde encontrarei as respostas das dúvidas que atormentam o meu sub-consciente? - Perguntava, olhando ao céu.

- Se existires serás tu um medíocre ícone, uma imagem depreciativa da bondade e dos costumes.
Nunca pensei na falta da tua existência, mas, neste momento, esta ausência tornou-se o combustível criativo.
Juro que nunca matei, nunca roubei, nunca fiz algo, conscientemente, para denegrir a imagem de um igual, mas a vida tornou-me anticristo.

Ao não acreditar na boa vontade, no Cristo, tornei-me réfem dos pensamentos pessimistas dos Nitzschens modernos.
Não sou forte para acreditar numa sociedade opressora, não sou forte para viver sem um criador, não sou forte para sobreviver ao caos.
O homem fraco é o homem morto.
A morte não precisa ser sentida, na pele.
Estou morto, como tantos outros, por pensar que o existir é errôneo.
Estou morto por pensar que a vida é um processo natural dos humanos.

O bem e o mal não são fatores predisponentes ao caos, pelo contrário, eles não interferem.
Um homem não nasce com um genótipo de assassino, ladrão, louco.
Ele torna-se isso devido ao seu fenótipo, ao ambiente em que ele vive.
Então, o que posso divagar sobre a pessoa que me tornei?
Pensei, horas, sobre isto, mas só lembrei de certos fatos:
Não tive pai, não tive mãe, não tive amor.
Este pensamento refuta minhas dúvidas sobre a existência de um Deus ou sobre um carma.
Como Deus fica vendo um "filho" apodrecendo numa prisão sem grades?
Como ele pode condendar-me, ao pensar que o suicídio é a única escolha?

Não acredito que seja Carma.
Se fosse, eu, já estaria morto ou preso.

A minha existência é a prova de que Deus não existe e de que não há re-encarnação.

Por que não consigo me matar?
Por que tenho vontade de existir?
Será porque o suicídio é o final da desculpa esfarrapada que sempre proferi( A existência, sendo única, deve ser aproveitada a cada momento)?

- Deus, Demônio, Alá, Moisés, Buda, por que fizestes isso comigo?
Por que tornaste-me um soldado voluntário da inexistência de valores?
Eu não mereço, eu não mereço!

Sozinho, num quarto, com um punhal em mãos, penso em acabar com a vida, tornar o branco da paz, no negro da solidão.
Sem alma, espírito, descansaria minha tão cansada existência.
A moral, ou a falta dela, seria preponderante nesta caminhada ao infinito.
Mas, a esperança vem e torna a macilante face em sorrisos sardônicos.
Vingar-me da vida, tornando-a um inferno dantesco.
Esta será minha última e única reinvidicação!
Então, a vingança seria correta.
Se houver um Deus, ele estaria sentido, aos prantos, chorando por um filho.
Se não houver, a dor, seria a cruz que carregaria para o solo.

Uma cruz e o punhal em mãos.
A fé e a falta dela, andando juntas, numa união carnal.
O pulsar intermitente torna-se um pulso breve.
A escuridão cerca, crucificando aquele que sempre quis a salvação.

Thursday, June 19, 2008

O amor no tempo do câncer social.

- O que pensas da vida, Sarcoley? - Perguntou, Inara.
- A vida é como um baseado, minha linda, fumamos e fumamos, mas um dia chega ao fim.
Quando o final está próximo sonhamos com outro baseado, mas o traficante sempre está longe.

Inara olhava para Sarcoley, mas não percebia a profundidade de suas palavras.
Pensava que ele estava apenas bêbado, como de costume, jogando com as palavras.
Então, Sarcoley, completou:

- Ontem era o hoje, o tempo passou e nem percebemos que um novo alvorecer estava por vir.
Os momentos que vivemos, no passado, sempre estarão no passado, como lembranças de uma vida terna ou turbulenta, mas estas lembranças serão obsoletas quando comparadas com os sonhos futuros.
Sempre, evolutivamente, quereremos mais e mais.
As barreiras morais serão transpassadas quando notarmos que a cada dia baixam centímetros.
Um dia acordaremos e veremos que a vida não existe.

O silêncio tornara-se uma névoa, passageira, mas prolongada.
Sarcoley e Inara, entre goles, tragos e olhares, pestanejavam uma lua minguante.
O barulho da chuva, os sons dos carros, os grilos cantantes, não eram capazes de ocultar as vozes dos inocentes.
Perceberam que o ambiente, em que estavam, era de adolescentes, recém saídos das fraldas.

- Sarcoley, a moral existente fundamenta-se na realidade dos tempos modernos.
Imagine se nós deixássemos de lado os preconceitos, as defesas sociais, e quiséssemos viver numa terra macilante?
Será que a vida dos jovens adultos seria a mesma?
Os sonhos futuros seriam prósperos?

- Não, Inara.
Não quero viver sem minhas defesas, sem meus defeitos.
A terra macilante render-se-ia ao divino.
Os jovens adultos, revolucionários, como sempre, tirariam o poder dos tolos que pensam num futuro dependente da racionalização.

O último beijo acontecia.
Antecedendo uma tempestade de dissabores.
Os dois cruzavam uma linha.
Desta só os ignorantes passaram.
O adeus da racionalização.
As boas vindas à emoção, vigente num sentimento novo, para os jovens intelectuais:
O amor.

Monday, June 16, 2008

Discutindo Nietzsche.

"As espécies não crescem em meio à perfeição:

Os fracos sempre se tornam novamente senhores sobre os fortes.

Isto acontece porque eles estão em grande número e por que eles também são mais inteligentes...

Darwin esqueceu o espírito, os fracos possuem mais espírito...

É preciso ter necessidade de espírito para obter um espírito - nós o perdemos quando não temos necessidade dele. Quem possui a força se desprende do espírito".



Nietzsche interpretou muito bem a relação da fraqueza como uma forma de libertação.

Distinguia neste ponto os valores.

Separando o corpo do espírito ele mostrou que os pobres(Fracos) se sobressaiam dos ricos( Nobres fortes) por ter um senso de moralidade mais apurado.

O homem, por Nietzsche, acaba por formar uma distinção entre o agir corretamente e a ação propriamente dita, feita pelo homem.

Ele leva a crer, neste trecho, que a maioria vence, não por estar em maior número, mas por desacreditar na hipótese do homem como criador das normas de conduta.

Thursday, June 12, 2008

O dia do bêbado solitário.

Pensei várias coisas hoje.
Levantei às 2:00h da manhã e começei a estudar.
Tinha três provas hoje, fiz as três com excelência.
Mas, quando cheguei em casa, feliz, por saber que tinha feito o meu melhor nas faculdades,
deparei-me com a infelicidade.
Ela chegou, sem bater na porta, e entrou arrogantemente.
Dia dos namorados, estou sozinho, no mesmo quarto branco, com os mesmos quadros e livros.
Não tenho ninguém para dizer: Eu te amo.
Então, tentei sonhar com a possibilidade de uma mulher se apaixonar por mim.
Via um corpo fenomenal, mas sem rosto.
Seios bem delianos, mas sem cor.
Ah! Se eu pudesse ser Deus.
Me vingaria do destino e faria um harém.
Mulheres de todas as cores, credos, filosofias de vida.
Mas, nada é perfeito, nem os sonhos.
Até porque os sonhos são materializações dos desejos, mas uma hora ou outra a realidade, enrustida, se volta aos sonhos.
O harém é desfeito, volto a ser um solitário com uma cerveja na mão.

Percebi que todo homem acha em si os próprios limites de seus sonhos,
talvez para não fugir da moralidade.
Queira ou não queira os melhores sonhos são os amorais...
As vontades, desejos, ficam suprimidas por comparação com a realidade.

Hoje, encontrei em mim o retrato do mundo, como não é visto.
Vazio, sem explicação, destrutivo.
Tornei-me um sofredor voluntário, não pelo mundo, mas por mim.
Pois, esqueci o que é felicidade, por preferir sonhar, por preferir não se arriscar na realidade.

Hoje, bêbado, solitário, depressivo, descobri...

Não sou uma metamorfose ambulante, não sou nenhuma revolução, não sou um gênio,
não sou amado, não tenho
NADA.

E não diga que estou errado.
Pois, não sei quem é você, não me importo.
Minha vida é uma tragédia, mas esta me torna vivo.