Monday, August 16, 2010

Amor para a vida inteira

Este gosto amargo desdenha do meu apurado paladar.
Volte para seu cubículo e traga um Bourgogne tinto ou Bordeaux.
Contarei a história da minha vitória sobre a vida.

- Embebes-te de vinhos caros, como a lua, macilenta, envaidecendo-se na noite gélida.
Saibas tu que não moverei meus pés calejados desta cadeira.
E tampouco desejo escutar as histórias de um bêbado charlatão.

- Não vês que estás de frente de um Deus?
Perdoarei suas palavras ásperas regozijando um bom trago de vinho.
Deixas teu fanatismo nas fisgas da porta ao teu lado.
E só retornes com meu vinho.

- Montarei o cavalo branco e não mais voltarei a este recinto.
Na noite, presente, atravessarei rios e mares para fugir de tuas palavras insensatas.
Regojize-se com meu desprezo ao que tens a me falar!

- Insolente! Não ouses mover-se deste bar.
Não antes de trazer-me um bom vinho.

- Trôpego e arrogante.
Faço um última caridade.
Tomas esta bengala e vais, com tuas pernas falhas, pegar o vinho.

Galopando durante horas, Sarcoley, refugia-se no alcoice do deserto.
Agarra a primeira Chininha que passa e a leva pro quarto.
5 minutos depois, satisfeito, acende o último cigarro.
Mal sabia ele que o trôpego, Jéveux, aproximava-se velozmente.

- Neste leito, torno-me o último a apreciar o doce sabor de teus lábios.
Estes lençois, branco-gelo, inundados de sangue, serão tuas últimas vestes.
Morrer! Este é o teu destino. Morrer!

Neste momento, Jéveux Guinevere, adentra pela porta imunda.
Vê o esganiçado trovador, Sarcoley, com a boca ensanguentada.
Em sua mão esquerda um punhal de época.
Na direita o coração, ainda pulsante, daquela jovem menina.

- Se não posso ter teu respeito, Jéveux, então tiro aquilo que tu tens mais apreço.
A tua doce filha.

- Minha filha, tua mulher, está morta, Sarcoley, viste o enterro dela.
Acabas de matar uma prostitua qualquer, inocente.
Talvez uma mãe de família.
És uma pessoa doidivanas.
Não mereces meu apreço.

- Morrer! Este é teu destino, Jéveux. Morrer!

Ensanguentado, Sarcoley, saí a cavalgar.
Com os corações da chininha e do velho Jéveux em sua bolsa.

Saturday, August 07, 2010

Ok... Cap. 2

CAPITULO 2


Era uma tarde de outono. Os pássaros pareciam recitar poesias e a cada pedra que era jogada no riacho, uma nova imagem se formava, melhorando ou não a percepção da existência de um amor naquela relação.
- Clara, onde estão Dani e Rema? – Perguntou Henry.
- Estão descarregando seus filtrados glomerulares no muro da igreja.
- Filtrado o que? – Perguntou ele. – Deixa pra lá. Chame-os aqui.
- Está certo. Já volto. – Respondeu ela.

Naquela paisagem única, o pensamento de Henry soltou as amarras da consciência.
Ele era livre e exercia os direitos de o ser. Mas, a realidade o tornava preso.
Pegou um papel e uma caneta e começou a escrever:

“ Quero sonhar! Viver um universo paralelamente.
Quero cantar a todas as lágrimas que chorei quando inocente.
Quero dizer que infelizmente vivo num mundo já existente.
E que as fábulas ficaram num passado que lembrei recentemente ”

Mais uma vez a escrita tornou possível a fuga do real. E ao olhar pra esse verso, ele pensava o quão bom seria se pudesse fazer o mundo ao seu jeito. Mas, pela inocência que ele tratava o tema talvez não tenha percebido o quão importante é viver a injustiça.
Enclausurado em uma prisão metafórica. Seu senso de justiça era ascendente.
Tinha deixado de ser um jovem, como tantos outros, idealista. Amadureceu, em uma simples tarde.

- Henry, o muro da igreja ta branco, cara! Não podemos deixar assim. Essa semana vai ter o casamento de uma daquelas católicas hipócritas que ensinava religião lá no colégio. – Falou Dani.
- Não acho que seria justo acabar com algo tão especial pra alguém só porque não gostamos do jeito que ela leva a vida. – Retrucou Henry.
- Então, você acha justo o que ela fez com a gente? – Perguntou Rema.
- O que ela fez pra gente? – Henry pergunta. – Não me lembro de nenhuma professora de religião que não fosse freira.
- Vou refrescar sua memória...
Havia um homossexual na nossa sala, se lembra de Bruno?
- Claro que lembro! - Disse Henry, aos risos.
- Bem, se lembra então que quando nós o jogamos na lata de lixo uma freira viu e denunciou pro coordenador?
- Lembro. Passamos por maus bocados por causa da denuncia. – Pensativo Henry completou. Mas, merecemos. O jogamos pelo fato dele ser pederasta, mas esquecemos que ele era nosso amigo antes de vim falar que gostava de homens.




Aos risos, Clara achou que tinha que se meter.
- O preconceito de vocês só revela a insegurança quanto a sua própria sexualidade.
- Está me chamando de gay? – Perguntou o irritado Dani.
- Claro que não, mas aquilo que você mais odeia pode ser o que você mais deseja.
E olhe por um lado, a homossexualidade é um tema atual. Quem sabe um de seus amigos já não tenha pensado em ser?

Nesse exato momento Rema se constrangeu. Parecia nervoso com o assunto e propôs um novo assunto.
- Só sou eu ou esse entardecer seria melhor ainda de “borest”?
- Falou e disse, irmão. – Disse Henry. – Tens ai?
- Tem na minha bolsa. – Respondeu Rema.

Regados a muita maconha e cerveja

Encontrei um projeto de livro... Vou ficar postando por aqui

Regido de ilusões, um reflexo de sua infância e adolescência problemática.
Desde pequeno fabulava situações em que o herói era o anti-herói, que as verdades eram manipulações que foram expostas pelos outros.
A perda prematura de um familiar, ao qual era muito ligado, fez com que suas lagrimas caíssem constantemente. A sensibilidade para discernir a moral das pessoas apareceu naturalmente, o fez um analista das características e fisionomias humanas estupendo.

Um som ecoava estridente, não conseguia manter-se no estado de R.E.M., e o sonho que nunca saiu de sua mente, desde os 8 anos de idade, novamente voltava.

CAPITULO 1


Numa noite como outra qualquer, as sirenes anunciam a falta de pudores da sociedade, mártires padecem nas ruas, vestidos com farrapos em decomposição, jovens cultuam o amor animal e se intoxicam pra provar sua rebeldia.
Da sua sacada, Henry, observa e com fascínio fixa seu olhar em um ponto.
Parecia-lhe uma imagem familiar. Uma senhora carregava suas compras e num lapso um menino branco, aparentemente com farda escolar, saca de sua mochila uma faca e ameaça a idosa. O medo era evidente na cara daquela senhora, a palidez de sua pele e os apelos ao jovem rapaz não foram suficientes pra não aumentar as estatísticas de assalto.
Henry, decepcionado, lembrou então de seus tempos de garoto rebelde. Lembrou dos falsos trabalhos escolares que contava aos seus pais para gerir capital pro seu vicio.
Quando os pais não tinham dinheiro ou não davam, ele simplesmente saia pra rua e com seu punhal assaltava senhoras indefesas.

O som do telefone interrompe suas analises.
-Alô, quem fala?
-Henry? Não acredito que se esqueceu de minha voz-
Aos risos falava-. -Julia, a “Trofônica”.
-Ah!- espantado ele responde. – Claro que lembro. Como me esquecer daquela pequena travessa?
Ele riu.
- Pra onde vocês foram? – Perguntou ele. – Durante anos procurei saber o porquê de irem embora sem se despedir. E onde está Clara?
- É... É... Temos que conversar sobre muitas coisas. Podemos nos encontrar agora?- Perguntou ela. – Estou na cidade, acabei de chegar.
- Sem problema. Estais na casa de parentes ou em Hotel?
- Estou no Hotel Psison. – Respondeu ela. – Fica perto do Shopping.
- Eu sei onde fica. De que horas passo ai, Ju?
- Pode passar agora se quiser.
- Ok, estou indo agora.

Henry segue rapidamente pro carro. Não acreditava que depois de tanto tempo elas teriam voltado. No caminho, a angustia se fez presente. Sabia que algo estava errado.
A voz dela mudou de entonação quando eu citei o nome de Clara.



-Boa noite, senhor. - O atendente do Hotel exclama. – Deseja um quarto?
- Não. Vim encontrar uma amiga. Seu nome é Julia Castro.
- A quem anuncio? – pergunta o atendente.
- Diga-lhe que é Henry.

Nesse momento, um carro estaciona violentamente na frente do Hotel.
Henry vira e vê um homem, aparentando estar bêbado, discutindo com uma mulher.
Fica abismado com as palavras que ele dizia e ainda mais quando percebeu um garoto ao lado deles, o choro deste comoveu Henry.

- Por favor, pare! - Desesperado, gritava o garoto.
- Cale a boca, seu órfão patético! – Retrucou o homem.

Henry, um moralista convicto, não se conforma com essa situação. Era absurdo, pra ele, falar atrocidades como aquelas, para um garoto, que deveria ter uns 6 à 7 anos.
Dirige-se até o carro, junto com um dos seguranças do Hotel.
-Desculpe-me intrometer, mas você não acha prudente deixar de fora o seu filho da violência que você está fazendo com a mãe dele? – Perguntou Henry.
- Ele não é meu filho! – Grosseiramente, retrucou o homem. – É parente dessa vagabunda.

O segurança, então, tenta conter o Homem, mas parecia que a raiva que ele sentia, fez sua força multiplicar-se.
Nesse instante, Julia se aproximou. O garoto correu para os braços dela.
-Tia Julia, ajuda Tia Déb. O monstro voltou. – Aos berros dizia o garoto.
- Saia de nossas vidas! Você tem que se tratar, ainda tens cura, Leo. – Falou Julia.
- Cale a boca, vadia! – Gritou o bêbado. – Da minha mulher eu cuido.

Henry estava atordoado, não conseguia entender algumas cenas daquele episodio.
Sua vista estava embaçada e só um ponto parecia-lhe claro: A face do rapaz.
Apesar de ser contra a violência, seja física ou mental, uma raiva dantesca surgiu.

- Leo, vá dormir. Amanhã verás que o quanto está errado. – Assustou até o Rico. – Falou Julia.
- Só vou dormir quando tiver umas explicações dessa vadia! E esse garoto tem que aprender como é a vida, aprender que as mulheres não prestam. Talvez ele fique mais forte no futuro.

Henry não agüentava ouvir isso. Parecia que perfuravam sua cavidade torácica com um serrote. Então, partiu pra cima do agressor e desferiu-lhe um soco.
- Saia daqui agora ou chamo a policia! – Irritado exclamou, Henry.

O rapaz levantou-se, viu o sangue escorrer em sua face. Apesar de o álcool ter anestesiado-o, ainda sentiu a dor na sua narina. Sua respiração estava ofegante.
Partiu em direção a Henry com seus escabrosos olhos ensangüentados e tentou atacá-lo.
Não sabia ele que o seu oponente lutava Jiu-Jitsu, uma arte marcial voltada à imobilização, nas horas livres.
- Chame os seguranças do Hotel! –Exclamou H., em direção a Julia.

Após a imobilização, Henry via no rosto do garoto um sorriso. Lembrava-lhe alguém, mas não conseguia identificar. O peito disparou, alguma ligação devia ter com ele.

- Deixe-o conosco, senhor. – Um dos seguranças falava. – Vamos assegurar que ele não importunará nenhum de nossos hospedes.
A mulher que se encontrava dentro do carro, então, saiu. Envergonhada e ao mesmo tempo aliviada por todo aquele episodio ter tido um fim.
Ainda chorando ela vem abraçar Henry.
- Obrigado, H., ainda bem que aparecestes.
- Déb? É você mesma? – Pergunta Henry.
- Sim, e aquele era meu marido. Ele sofre de dependência alcoólica.

Julia afasta-se do grupo junto com o garoto. Mas, Henry mal percebeu. Estava entretido na conversa com uma amiga que não via faz tempo.
- Onde está Clara? – Perguntou ele. – Eu preciso falar com ela. Tem coisas que não ficaram resolvidas entre nós.

O silêncio então se fez presente. Caiam, agora, mais lágrimas dos olhos dela.
Henry começava, então, a unir pedaços de um quebra-cabeça imaginário.
Em um lapso ele percebeu que havia algo errado.
O garoto lembrava-lhe alguém. Era a sua ex-namorada, Clara, que de uma hora pra outra partiu e só deixou uma carta. Nenhuma das palavras ditas por ela foi esquecida.
Em um dos trechos dessa carta ela dizia:

“Apesar de o amor ser a união de duas almas, apesar de nós sermos essas almas. Não podemos ficar juntos. Porque não só de amor vive uma pessoa. Não tenho coragem de te encarar. Então, por favor, não me procure mais”.

Julia se aproxima dos dois. Vê a comoção de sua irmã e o olhar pensativo de Henry.
-Henry? – Fala Julia ao estender a mão pra ele. – No bar teremos mais privacidade, tenho muito a te falar.