Wednesday, February 20, 2008

Do céu ao inferno e vice-versa.

Na calada da noite, levantei.
Cambaleando, apoiando-me nas paredes, lembrei que estava de ressaca.
Por conseguinte, não lembrarei de vários acontecimentos vividos nas horas que se passaram.
Minha boca estava, extremamente, seca.
Resolvi, então, hidratá-la.
Chegando na cozinha vejo uma imagem dantesca, algo que para outros não significaria nada.
Uma mensagem de sorte, daqueles biscoitinhos chineses, inundada pelo vermelho brilhante de um condimento qualquer.

Depois de alguns segundos, observando aquele pedaço de papel, decidi que iria ler e transformar a mensagem num modo de seguir vivendo.

Você é muito confiante, tudo que faz dá certo...

- Eu sou confiante, porra! - Grito, ancorado, na janela.

A luz de uma casa vizinha, repentinamente, é acendida.
Penso, pois, testar esta teoria.
Se sou tão confiante(...) por que não ficar esperando esta pessoa aparecer na janela?

- Cala a boca, filho da puta! - Vocifera o destruidor de metas.

Caminho para a cama.
Bêbado, decepcionado e humilhado.
O corredor, tão curto, parecia maior.
Meus passos, antes destacados, ficaram lentos.
A confiança, que necessitava, perdia-se no primeiro obstáculo.

O pensador e o psicólogo maldito.

Era um dia ensolarado, em Hell city.
O jovem pensador encontrava-se, novamente, com a Depressão.
Ela sorria, ironicamente, bradando aos sete cantos que a vida, do jovem, acabara.
Tal pensamento, resultado da queda do muro vital, era vívido, em preto e branco.
Os destroços espalhavam-se, destruindo plantações e tornando-as acárpicas.

A fumaça do cigarro recobria o rapaz por inteiro.
As lágrimas, prestes a cair, eram aprisionadas.
O crime delas, inafiançável, foi tornar a fraqueza em uma emoção.
E desta, um homem, não pode sucumbir.

Os caminhos trilhados, com sucesso, em tão pouco tempo de vida, eram esquecidos.
Os obstáculos, nunca.
Ficaram marcadas, como as imagens do fracasso.

- Posso sentar-me ao teu lado? - Perguntava o metediço.
- Como deves saber, este banco é público.
Senta-te se assim quiseres. - Respondia, cordialmente, o rapaz.

Ficaram, os dois, lado a lado, em silêncio por alguns minutos.
O jovem pensador começa a analisar, como de costume, a pessoa que estava ao lado.
Era um homem com, aproximadamente, 30 anos.
Cabelos desgrenhados, 1,80m e uns 70 kg.
Estranhamente ele não parava de sorrir e olhava para, o outro, com, o que parecia ser, desejo.
Enojado, o jovem se afasta. Mas, como numa perseguição, é seguido passo a passo.
Irritado, ele pára. Vira e pergunta:

- Desculpe-me, sou hetero.
- Achas que sou homossexual? - Perguntava aquele senhor. - Só achei que precisavas de alguém para conversar. - Completou.
- Estavas olhando fixamente para mim, não só nos olhos, mas em todas as partes de meu corpo.
Isso parece, homossexualidade. Não achas?
E, mesmo que não fores, por que achas que preciso de alguém para conversar?
- É notória, a depressão que sentes, rapaz.
Quando estive assim, gostaria de ter tido alguém para desabafar.
Pareces um rapaz isolado, sem muitos amigos, então resolvi ser aquele que te escutará.

O jovem pensador, em colapso, abaixa suas armas.
Desarmado, dá chance para o inesperado.
E este não a perde.

- Posso perguntar seu nome? - Dizia, ofegante, o homem.
- Acabas de perguntar, mesmo sem minha autorização.
Mas, se é, para ti, tão importante...
Sou Danilo, e tu, quem és?
- Sou Ademar.

Danilo, como sempre, retira de seu bolso a carteira de cigarros.
Acende-o e, de forma esnobe, solta a fumaça na face de Ademar.

O seu nome é bem interessante.
Sabes o que significa?
- Nunca me interessei por conhecimentos inúteis. - Ironicamente, dizia Danilo.
- Bem, talvez se identifiques.
Este nome mostra que és uma pessoa que não se preocupa, exageradamente, com a opinião dos outros.
Achas, melhor, estar em paz com a consciência e com seus princípios morais.
Deves ter uma boa intuição e deves saber usá-la.
- Legal. Mas, o que ainda fazes aqui?
Melhor, o que eu faço aqui?
Desculpe-me, senhor, mas prefiro que a sua imagem suma da minha cabeça.
A depressão, instalada, não quer dizer que sou mentalmente incapaz de reconhecer um pederasta.
- Não se repetirá...
Se estiver sendo inconveniente, aqui estão minhas desculpas.
- Ótimo.

(Continued)

Sunday, February 17, 2008

A mulher do posto

As garrafas se acumulavam, novamente, no teto do carro.
Aquele posto não parecia o mesmo...
Em dias anteriores, todos, os clientes, estavam alegres e sorridentes.
Mas, nesta noite de terça-feira algo incomum acontecia.
O silêncio era rompido por um som de carro.
A música, tocada, era de uma daquelas cantoras americanas de R&B.
Como, naquele momento, a conversa e as garrafas estavam vazias, começamos a observar a senhora que estava dentro do carro.

O carro, um azul fosco, com as marcas do tempo e das barbaridades ao volante, era um daqueles familiares, com mala grande.
Por dentro se via o descaso.
O porta-luvas quebrado, um rádio antigo, o estofamento, dos bancos, rasgados.
No retrovisor era pendurada uma borboleta de borracha, de cor rosa.
No vidro dianteiro, um adesivo de um curso de inglês para jovens e outro com a bandeira de Pernambuco.
Nunca pensei nisso, mas um carro diz muito sobre uma pessoa.
Notava-se que se tratava de uma senhora desleixada, da classe média, com filhos.
Mas, o carro tornava-se desinteressante, quando víamos aquela senhora pegar, a todo instante, o celular.
Um tanto quanto obsessiva, ligava várias vezes, mas a pessoa não atendia.
Enquanto esperava o tempo, para ligar novamente, bebia alguns goles de sua cerveja e dava alguns tragos em seu cigarro.
Fato que chamou muita atenção, já que, em pouco tempo, ela bebera três cervejas e fumara incontáveis cigarros.

A observação ficava, cada vez mais, analítica.
Chegamos perto, vimos uma aliança.
Talvez, as ligações, fossem destinadas ao marido, possivelmente infiel, que estava aproveitando a noite com outra mulher, ou talvez seja para um filho, que, até aquele momento, não chegara em casa.
Então, pressupomos, por meio da segunda preposição, que ela morava perto.

Quem sabe o que é ter e perder alguém...

Ela acompanhava balançando o cigarro, mas não ansiosa.
Outra pressuposição é feita:
Ela não estava abalada pela letra da música, então, talvez, aquelas ligações feitas não eram as esperadas, pelos telespectadores.

Não suportava vê-la tão deprimida.
Comecei a pensar que aquele seria um ritual que antecedia o suicídio.
Tudo se encaixava agora.
O desleixo, o excesso de álcool e cigarros, o olhar fixo, a inquietude e aquele modo como ela entrava na loja de conveniência.

Penso em chegar até perto e perguntar se ela quer conversar, mas covarde não chego.

Acho que me faria bem, escutar aquela senhora, ver o que estava intrínseco naqueles olhos cansados. Com certeza sentir-me-ia feliz por não viver a vida que imaginamos como dela.

O rugir, do motor, era escutado novamente.
Não havia mais nada a pensar ou fazer.
Finalmente alguém atendeu ao telefonema.
Ela se despedia do cigarro, da bebida, da depressão.
Sorria, desligava o som e partia para nunca mais voltar.

Saturday, February 16, 2008

O Deus da loucura - Os 2 atos.

Ato 1:

A solidão é tremenda nesta montanha racional.
Caminho por várias horas, mas nada encontro.
A cada volta, em torno do eixo, vejo minha imagem.
Então, a expectativa máxima, desta passagem de tempo,
seria notar as diferenças visuais.

A barba e o cabelo crescendo, rapidamente.
Os anos passam e o isolamento transforma-se na vitória.
Consigo traçar perfis, de personalidade, das pessoas.
Sei exatamente o que falar e no exato momento.
Obviamente não tenho praticado, mas na hora que despertar,
e voltar para a civilização, estarei pronto para ocupar o lugar
que me pertence.

Ato 2:

Novamente, passo da estaca zero, seguindo a curva da inocência.
Respirando os ares de minha genialidade.
Cultuando meu corpo e o de todas que amei profundamente.
Flexiono, pois, meu braço e com muito pesar dou adeus a minha montanha.

Está na hora...

Monday, February 11, 2008

Procura-se um amigo.

O autor desse texto é uma pessoa extraordinária.
O admiro como poeta, escritor e pessoa.
Quem quiser ver mais trabalhos dele aí está um link:
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=17637

Procura-se um amigo.
Autor: Marcelo Lopes

Procura-se um amigo
Que me empreste seu ouvido
A qualquer hora do dia
Sem prazo de entrega estipulado
Sem censura e
Sem malícia

Um amigo que goste de menino e menina
Um amigo para comentar o "lado B do disco da vida"
Um amigo que possa falar sobre as coisas sem sentidos
Como aquele dia que ouvi...
Um vinil muito foda do Pink Floyd...entorpecido
Procura-se um amigo que goste do barulho da chuva
Caindo no telhado numa noite de domingo

Procura-se um amigo que goste de cheiro de mato molhado
Um amigo que goste das flores com seus insetos e espinhos
Procura-se um amigo que ainda é capazD
e imaginar desenhos engraçados
Formados pelas nuvens no papel azul-divino

Procura-se um amigo que tenha mais medo de mentira
Do que medo de dentista
Um amigo que tenha a figurinha premiada
Que faltava no meu velho álbum de "figurinhas repetidas"

Procura-se um amigo
Que acredite no pote de ouro no final do arco-íris
E que não seja alienado
Por convenções formuladas
Pelas leis da física e ...acima de tudo procura-se um amigo
Procura-se um amigo que não goste de física.

Thursday, February 07, 2008

O sonho na sexta-feira de carnaval.

Carnaval passou...
Interessante como um feriado transforma, quase todas, as pessoas.
Acordei na sexta, dia de iniciar a folia, e pensei em vários modos de encarar esta passagem de tempo.

Poderia ser a mesma pessoa ou me trasnformar.
Como estava em dúvida, sobre qual conduta deveria ter, então, fui beber.
Ah! Como é bom ser livre.
O posto, que sempre frequento, estava vazio.
Sentei na mala do carro, coloquei um som ambiente (Richard Clayderman), olhei para o sol e, entre goles de cerveja, dava uns tragos no meu cigarro.
A vida não poderia ficar melhor.
De repente o silêncio é rompido.
Escutava de longe aquela marchinha do carnaval de Recife.
Putz! Não acredito.
9h da manhã e as pessoas já saem nas ruas?
Prévia do Timbu coroado.
Tive que desligar o som, apaguei meu cigarro e busquei outra cerveja.
O atendente do posto fala:
- Está proibida entrada de pessoas na loja de conveniência, até que o bloco passe por inteiro.
E, ironicamente, respondo:
- Mas, eu não sou uma pessoa. Se fosse já estaria pulando com eles na rua.

O sangue ferveu.
Não podia escutar som, não podia comprar cerveja...
O que então iria fazer até poder sair com o carro?
Bem, tomei uma decisão.
Vou entrar no espírito do carnaval.
E, por um lado, pode até ser proveitoso.
Afinal, as mulheres ficam bêbadas e querendo transar loucamente, do jeito que eu gosto.

Abro o carro, novamente, e pego o perfume.
Faço pose do lado do carro.
Essas mulheres futéis adoram homem com carro.
Uma, em particular, é bem interessante.
Loira, alta, corpo escultural. Enfim, fenomenal.
Dou um puxão em minha cueca, pra ela olhar pra cabeça não-pensante do Farr Sunsa, e ela olha.
Bom sinal...

Não resisto e prontamente me aproximo da deusa.
- Menina linda, por você dançaria frevo, jogaria fora meus cigarros, usaria roupas de mauricinho.
- Menino estranho, eu não curto frevo, eu também fumo, não gosto de mauricinhos.
Então, o que pretendes fazer agora? - Pergunto.
- Não sei, mas o banheiro do posto cabem dois, certo?

Quando já atingia o nirvana, novamente, um som interrompe.
Não sei ao certo o que as palavras significavam, mas parecia uma música sem muito ritmo.
Um grito, então, ecoa em minhas orelhas.
- Henrique, porra, acorda e atende esse telefone.

Putz! Estava a sonhar.
Mas, será que aquela mulher tão linda era irreal?
Na dúvida é melhor acreditar que era meu ideal feminino.
Falava pouco, era gostosa e transava muito bem.

- Alô?
- Que demora pra atender este telefone.
O bloco já vai começar.
Você vai ou não? - Pergunta a voz do outro lado.
- Acho que não.

Tem certas coisas que funcionam bem nos sonhos.
Então, não tente confundí-los com a realidade, pois
podes ficar decepcionado e não ter forças para
levantar no outro dia.