Saturday, August 07, 2010

Ok... Cap. 2

CAPITULO 2


Era uma tarde de outono. Os pássaros pareciam recitar poesias e a cada pedra que era jogada no riacho, uma nova imagem se formava, melhorando ou não a percepção da existência de um amor naquela relação.
- Clara, onde estão Dani e Rema? – Perguntou Henry.
- Estão descarregando seus filtrados glomerulares no muro da igreja.
- Filtrado o que? – Perguntou ele. – Deixa pra lá. Chame-os aqui.
- Está certo. Já volto. – Respondeu ela.

Naquela paisagem única, o pensamento de Henry soltou as amarras da consciência.
Ele era livre e exercia os direitos de o ser. Mas, a realidade o tornava preso.
Pegou um papel e uma caneta e começou a escrever:

“ Quero sonhar! Viver um universo paralelamente.
Quero cantar a todas as lágrimas que chorei quando inocente.
Quero dizer que infelizmente vivo num mundo já existente.
E que as fábulas ficaram num passado que lembrei recentemente ”

Mais uma vez a escrita tornou possível a fuga do real. E ao olhar pra esse verso, ele pensava o quão bom seria se pudesse fazer o mundo ao seu jeito. Mas, pela inocência que ele tratava o tema talvez não tenha percebido o quão importante é viver a injustiça.
Enclausurado em uma prisão metafórica. Seu senso de justiça era ascendente.
Tinha deixado de ser um jovem, como tantos outros, idealista. Amadureceu, em uma simples tarde.

- Henry, o muro da igreja ta branco, cara! Não podemos deixar assim. Essa semana vai ter o casamento de uma daquelas católicas hipócritas que ensinava religião lá no colégio. – Falou Dani.
- Não acho que seria justo acabar com algo tão especial pra alguém só porque não gostamos do jeito que ela leva a vida. – Retrucou Henry.
- Então, você acha justo o que ela fez com a gente? – Perguntou Rema.
- O que ela fez pra gente? – Henry pergunta. – Não me lembro de nenhuma professora de religião que não fosse freira.
- Vou refrescar sua memória...
Havia um homossexual na nossa sala, se lembra de Bruno?
- Claro que lembro! - Disse Henry, aos risos.
- Bem, se lembra então que quando nós o jogamos na lata de lixo uma freira viu e denunciou pro coordenador?
- Lembro. Passamos por maus bocados por causa da denuncia. – Pensativo Henry completou. Mas, merecemos. O jogamos pelo fato dele ser pederasta, mas esquecemos que ele era nosso amigo antes de vim falar que gostava de homens.




Aos risos, Clara achou que tinha que se meter.
- O preconceito de vocês só revela a insegurança quanto a sua própria sexualidade.
- Está me chamando de gay? – Perguntou o irritado Dani.
- Claro que não, mas aquilo que você mais odeia pode ser o que você mais deseja.
E olhe por um lado, a homossexualidade é um tema atual. Quem sabe um de seus amigos já não tenha pensado em ser?

Nesse exato momento Rema se constrangeu. Parecia nervoso com o assunto e propôs um novo assunto.
- Só sou eu ou esse entardecer seria melhor ainda de “borest”?
- Falou e disse, irmão. – Disse Henry. – Tens ai?
- Tem na minha bolsa. – Respondeu Rema.

Regados a muita maconha e cerveja

1 comment:

Juliana Porto said...

Sempre um Henry.[risos]

Juro que não sabia o que significava "borest", algo bem novo pra mim.

Enfim, concordo bastante com o que Clara disse. E Rema denuciou-se.

Bom conto, Henrique.

Beijos