Wednesday, May 07, 2008

Uma tragédia. Assim poderia ser definida a vida inteira de José.
O pai alcoólatra morrera quando ele tinha 3 anos.
Embora nunca tenha visto o pai, já que sua mãe não permitia, o apreço era grande.
O pai foi preso quando ele ainda estava na barriga de sua mãe, era estuprador.
Sua mãe foi uma das vítimas.
Depois de pensar muito em aborto, a mãe, desistiu, pois imaginava que mesmo sendo fruto de um sexo não consensual aquele menino, que estava por nascer, também herdaria seus genes.
Pensava também que aquele feto não tinha culpa de ter tal pai.
Resolveu ter o filho, então.

Ao nascer, a mãe descobre que o menino tinha uma doença sem cura e ela também.
Como em sua cidade, um destes interiores com saúde precária, não faziam testes nas grávidas foi impossível saber. Só com o parto teve uma confirmação.
A mãe do garoto morre dois anos depois, pois o vírus, Hiv, era do tipo 2, o mais forte.
José foi parar em um orfanato, já que seus avós maternos não o queriam, por se tratar do fruto gerador da doença acometida em sua filha.
Pensavam também que se mantivessem o garoto, uma hora ou outra, se tornaria um fardo.
Já que não tem cura.
No orfanato, os cuidados, eram muitos.
Era o xodó da enfermeira, da diretora e até do jardineiro.
Mas, ninguém o tocava, pois não queriam contato com um aidético, tinham medo de contrair a doença.
José foi crescendo e aprendendo que não importava o quanto ele fosse amoroso ninguém, lá, iria abraçá-lo, afeto que ele necessitava.
Aos 8 começou a frequentar o parquinho do orfanato, quando os outros garotos não estavam.
Sentava na árvore e a abraçava.
Ela era a única que não tinha medo dele.
Como não tinha amigos, então, começou a ler, sem parar.
Era o melhor da sala.
Já tinha lido todos os livros da pequena biblioteca.
Assim foi a infância de José.

Com 15 anos decidiu partir, queria conhecer o mundo de fora.
Sentiu que chegara a hora de viver.
Pegou suas trouxas, roubou da enfermaria vários remédios, usados no coquetel da Aids, para fazer um estoque.
Quando abriu a porta, percebeu.
Se queria ser livre deveria jogar os remédios fora.
E assim o fez.
Deixou para o passado a doença, o orfanato, os preconceitos para ingressar no mundo onde todos são iguais, como lera nos livros.
Pulou o muro de noite.

Como não tinha para onde ir, não sabia nada deste mundo novo, decidiu caminhar.
Andou a noite inteira, até seus pernas não aguentarem mais.
Fascinado pelas luzes, pelos carros, pelos prédios.
Encontrou um banquinho de praça e lá repousou.
Quando já estava dormindo um bando de rapazes e moças decidiu brincar com José.
Ofereceram um refrigerante para ele.
Inocentemente, aceitou.
Depois de 20 minutos José estava passando mal.
Colocaram laxante no refrigerante.
Não tinha banheiro, mas ele não conseguiria segurar.
Então, por estar em extremo estado de necessidade, José se enconstou em uma árvore e quando baixara as calças lembrou de sua velha amiga no orfanato.
Não poderia profanar uma árvore.
Viu, de longe, uma estátua e correu até ela.
Depois de 40 minutos agachado, sofrendo, ele avista uma sirene, como nos livros de suspense.
Dois policiais saem correndo e o prendem.
José não sabia, mas é crime depreciar o patrimônio público.
Quando já estava no carro, os policiais, perguntaram se ele tinha algum dinheiro.
Ele, inocentemente, mostrou os R$ 300,00 reais a que tinha direito, como pensão de sua falecida mãe.
Os guardas pegaram o dinheiro e o jogaram para fora do carro, ainda em movimento.
José caiu desacordado.
Um casal viu a cena e chamou uma ambulância e, consequentemente, a polícia.
Algumas horas depois ele acorda e se vê rodeado de pessoas.
Não sabia bem o que estava acontecendo.
Faziam várias perguntas, mas José, ainda com efeito do sedativo não entendia nada.
Depois de alguns minutos e um bom café da manhã(...) ele falou.
Disse que não se lembrava de muita coisa.
Lembrava que estava num carro da polícia e que os policiais roubaram R$300, 00, mas não lembrava de nada, fora isso, nem seu nome.
Como não tivera muita atenção, em toda sua vida, ele fez um "gambito siciliano", falando baixo para as pessoas se aproximarem.
Era tudo mentira, ele sabia quem era, mas não queria voltar para o orfanato.
Prestou queixa na delegacia, depois de sair do Hospital.
Várias câmeras estavam fora da delegacia, já que era mais um escândalo na policia, carro-chefe da programação de muitos noticiários.

(To be continued)

1 comment:

Anonymous said...

e se tu não encontrar a outra parte? como é que josé fica? como é que a gente fica?
viado!