Thursday, June 19, 2008

O amor no tempo do câncer social.

- O que pensas da vida, Sarcoley? - Perguntou, Inara.
- A vida é como um baseado, minha linda, fumamos e fumamos, mas um dia chega ao fim.
Quando o final está próximo sonhamos com outro baseado, mas o traficante sempre está longe.

Inara olhava para Sarcoley, mas não percebia a profundidade de suas palavras.
Pensava que ele estava apenas bêbado, como de costume, jogando com as palavras.
Então, Sarcoley, completou:

- Ontem era o hoje, o tempo passou e nem percebemos que um novo alvorecer estava por vir.
Os momentos que vivemos, no passado, sempre estarão no passado, como lembranças de uma vida terna ou turbulenta, mas estas lembranças serão obsoletas quando comparadas com os sonhos futuros.
Sempre, evolutivamente, quereremos mais e mais.
As barreiras morais serão transpassadas quando notarmos que a cada dia baixam centímetros.
Um dia acordaremos e veremos que a vida não existe.

O silêncio tornara-se uma névoa, passageira, mas prolongada.
Sarcoley e Inara, entre goles, tragos e olhares, pestanejavam uma lua minguante.
O barulho da chuva, os sons dos carros, os grilos cantantes, não eram capazes de ocultar as vozes dos inocentes.
Perceberam que o ambiente, em que estavam, era de adolescentes, recém saídos das fraldas.

- Sarcoley, a moral existente fundamenta-se na realidade dos tempos modernos.
Imagine se nós deixássemos de lado os preconceitos, as defesas sociais, e quiséssemos viver numa terra macilante?
Será que a vida dos jovens adultos seria a mesma?
Os sonhos futuros seriam prósperos?

- Não, Inara.
Não quero viver sem minhas defesas, sem meus defeitos.
A terra macilante render-se-ia ao divino.
Os jovens adultos, revolucionários, como sempre, tirariam o poder dos tolos que pensam num futuro dependente da racionalização.

O último beijo acontecia.
Antecedendo uma tempestade de dissabores.
Os dois cruzavam uma linha.
Desta só os ignorantes passaram.
O adeus da racionalização.
As boas vindas à emoção, vigente num sentimento novo, para os jovens intelectuais:
O amor.

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