Monday, March 15, 2010

As cinzas do meu cigarro

Uma noite atípica, no mínimo.
Acontecia uma reunião de pessoas, completamente, diferentes, mas com pensamentos conectados.
As histórias eram sempre narradas na primeira pessoa do singular ou do plural.
Eu fiz, eu e alguém fizemos, eu, eu, eu.
A conversa era interessante, por vezes.
Lembrar de fatos que até pouco atormentavam, mas que agora não fazem mal algum.
O grupo político, social e econômico adicionou mais um tema para suas falas lendárias: Música.
Falando de bandas nacionais, internacionais.
Bandas que acabaram, revolucionárias ou não, enfim, música.

O medo de conversar com as pessoas, de não saber o que elas acham sobre os temas falados, estava superado.
Eu poderia falar durante horas, mas não queria.
Prefiria escutar as vozes de outrem, beber um gole de minha cerveja e dar um trago em meu Marlboro.

A conversa continuava...
Mas, as vozes começaram a diminuir de intensidade.
Ficaram baixas, quase um ruído sônico.

(Bêbados riam na mesa ao lado, de forma escandalosa).

Vi uma mulher, desconhecida, da mesa que estava às 12h, olhando para meu cigarro.
Paranóico, como sempre, dou um trago para ver se ele estava comigo.
Ah! E como estava.
Doce e salgado, ao mesmo tempo.
A sensação inigualável de fumar um cigarro e nada mais importar.
Talvez por esta sensação que fumo estes anos todos.
Vários anos, 1/3 da minha vida.

O chão já parecia um cinzeiro, umas 20 bitucas ou mais.
Mas, não importava a quantidade.
Pra falar a verdade, naquele momento, nem a conversa importava.
Era eu e meu cigarro.
O vermelho alaranjado de suas brasas dava a sensação de calor, intensa,
loucura incessante.
Mas, no fundo, ao ver cair as cinzas do meu cigarro, lembrava da minha vida, por inteira.
E, isso, ao passo que era frustrante se tornou reconfortante, também.
Pois lembrava que apesar de minha vida ser jogada fora aos poucos, posso fazer como um cigarro.
Tirá-lo do bolso, acendê-lo e recomeçar tudo novamente.

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